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A busca pelo Batman perfeito

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Batman é um personagem misterioso. E esse mistério vai além da soturnez de seu humor e modus operandi para combater o crime em Gotham. Mais complicado ainda é chegar a um denominador comum sobre como transportar ele dos quadrinhos para as telas de cinema ou TV. Ele já foi caricato e piadista nos anos 1960, em uma série de TV para lá de escrachada, já teve mamilos, já foi mais ou menos carrancudo, dependendo da versão adaptada ao cinema. Sendo assim, jamais agradou gregos e troianos ao mesmo tempo.

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Tim Burton, lá no fim da década de 1980, desenvolveu de forma palpável uma Gothan City com ares quase cyberpunks, misturando tecnologia (da época) a algo apegado à fantasia. O Batman de Michael Keaton, o primeiro do cinema, era um herói preso sob um uniforme duro, falava pouco e se valia da estética dos filmes para dar certo. Afinal, era novidade após mais de 20 anos. Essa primeira leva de filmes era despida de pudores quanto ao uso de collants e fantasias para caracterizar os personagens. Quem não se lembra do Coringa de Jack Nicholson, com seu terno roxo e maquiagem? Ou mesmo o cretino Charada de Jim Carrey?

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Oito anos depois do famigerado Batman e Robin (1997) (aquele do mamilo George Clooney), Christopher Nolan traz Christian Bale como o Homem-Morcego em uma trilogia completamente diferente. Com uma fotografia mais pé no chão, mais vida real, com um Batman usando armamento militar. Ainda assim, vivendo um playboy para mascarar seu alter ego noturno. Com pouquíssimo humor, a trilogia Cavaleiro das Trevas, optou também por vilões menos fantasiosos como Bane, Espantalho e o grandioso Coringa de Heath Ledger. Até 2012, em Dark Knight Rises, não havia aparecido um Batman detetive. Também pudera, o ritmo do cinema é diferente dos quadrinhos, e se tratava o Batman como um super-herói dentro do um filme de super-heróis, mesmo que até então nenhum outro com super poder tenha aparecido na mesma tela.

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Em uma terceira adaptação, Zack Snyder trouxe Ben Affleck sob o manto sagrado da DC Comics. Um Bruce Wayne deprê, traumatizado (a gente também não pode esquecer que o cinema evolui a cada minuto), embrutecido. Baseado nas histórias de Frank Miller, esse Batman era tão agressivo quanto o de Nolan, com uma fotografia mais dramática. E com o melhor visual, na minha opinião. Foi prejudicado por outras questões que não vêm ao caso citar aqui. Até porque quero chegar no de Matt Reeves e Robert Pattinson, que está nos cinemas.

Estamos em um ponto da produção e consumo de conteúdo que é possível acompanhar em tempo real as produções, vazamentos de informações, é possível supor e até prever coisas sobre os filmes. Há uma lista de N criadores de conteúdo que falam insistentemente sobre os filmes, fazem o público ter uma exigência maior para superar o que já se sabe ou o que já se supõe que sabe sobre a trama. E quando o filme estreia, para muitos, não há muita surpresa. A experiência fica afetada, menor. Além disso, o hype dos filmes é medido nas redes, os boicotes, os pedidos dos fãs. É mais fácil saber como agradar. E num universo rico como o do quase centenário Batman, fica difícil de agregar o fanservice, os easter eggs com um roteiro certeiro e redondo de menos de duas horas. São mais de 30 anos tentando achar o Batman perfeito. E Matt Reeves se puxou para pegar um pouquinho do que deu certo em cada uma das tentativas anteriores para trazer um Homem-Morcego quase fiel.

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Em seu segundo ano de atuação Batman se vê em meio a uma série de crimes cometidos pelo Charada, que se comunica com ele por pistas deixadas nas cenas dos crimes. Algo como O Colecionador de Ossos, mas numa pegada mais O Silêncio dos Inocentes, Zodíaco (que é uma referência explícita na roupa do vilão), Copycat. O clima de suspense de stalker é inspirado de forma clara em Janela Indiscreta, inclusive na trilha sonora inicial. Alfred Hitchcock na veia.

A fotografia do filme é belíssima. A trilha sonora é belíssima. Já nosso protagonista fica no meio termo quando perde o silêncio do morcego e vira um rinoceronte. Pattinson não me convenceu que é badass como o Batman que Reeves queria. A trama já começa resolvida, não temos uma reviravolta daquelas de fazer o coração dar uma paradinha e gelar o corpo. NÃO TEM. Com três horas de introdução de um universo novo para o morcegão, The Batman é isso: uma longa e arrastada introdução de personagens, de fanservice, de easter eggs que, com muita sorte, fará uma grande bilheteria e ganhará sequências. Daí, quem sabe, termos um filme com um roteiro completo, com plot twist, com angústia, com um crime a ser investigado e desvendado para o público e não uma história que todos sabem o final. Opa.. mas que final?


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